Atualmente o Coaching vem garantindo presença constante nos programas humorísticos de TV, no Youtube, facebook, instagram dentre outras mídias sociais.
O principal destaque é sempre a maneira estereotipada como se comportam os Coaches, prometendo mudanças radicais, um novo emprego, uma nova vida, muito dinheiro, sucesso garantido, e outros milagres mais, simplesmente através da mudança do seu ”foco” ou “mindset”. Ou seja, basta mudar o seu “mindset” (ou mentalidade em português) e você certamente conquistará absolutamente tudo que desejar. Não existem limites, aliás o limite quem impõe é você mesmo e (claro) através do seu “mindset” limitado.
Ou seja, se você não atingiu a terra prometida ou o novo mundo ainda é porque falta “foco” ou o seu “mindset” ainda não está devidamente programado, portanto é preciso fazer um novo curso que irá lhe ensinar a trilhar o caminho das pedras para chegar ao olimpo e se tornar um novo bilionário do calibre de Bill Gates.
É realmente muito engraçado assistir a estes humoristas (sempre de blazer) subindo aos palcos e pronunciando frases de efeito, palavras de ordem, etc. Parece até mesmo um culto religioso em que todos serão recompensados caso sigam os ensinamentos do “Coach Guru”. De fato, alguns programas são de chorar de tanto rir.
Porém, é importante ressaltar que existe um enorme equívoco neste contexto, pois estão confundindo palestrantes “showman” motivacionais, de autoajuda, interessados em vender livros, cursos, eventos etc. com profissionais de Coaching.
É bem verdade que existem muitos Coaches palestrantes, mas a grande maioria atua em seus escritórios atendendo seus clientes ou Cochees, sem se envolver com palestras ou coisas do gênero.
O fato é que estes comediantes descobriram no coaching uma matéria-prima muito rentável para produzirem seus programas, talk shows, stand ups etc. e infelizmente os próprios profissionais de coaching e principalmente as escolas de Coaching fornecem todos os ingredientes para isto.
A verdade é que atualmente a profissão de Coach no Brasil ficou muito banalizada e não atribuo a culpa aos humoristas, que estão aproveitando o momento para ganhar audiência com o que está acontecendo, mas sim à própria categoria de Coaches que não consegue definir regras nem limites para a profissão.
Hoje existem 73.000 Coaches atuando no Brasil, segundo dados do ICF (International Coach Federation) sendo que muitos destes profissionais possuem baixa qualificação, são formados em cursos relâmpagos de apenas um final de semana, sem nenhuma aptidão para a profissão e sem nenhum preparo para fazer um atendimento digno aos seus coachees. E na verdade, este número vem aumentando exponencialmente em virtude do desemprego crescente no país. Ou seja, o profissional perde o emprego, faz um curso de Coaching, em poucos dias recebe um certificado e já se sente preparado a atender seus Cochees. Simples assim!
Tudo isto porque existe um número cada vez maior de escolas de coaching, oferecendo cursos a baixíssimo custo, ou mesmo gratuitos, com certificação às vezes até internacional.
E é justamente por aí que começam a aparecer os Coaches charlatões, oferecendo desde cura quântica a reprogramação de DNA e Coaching Xamânico. É por isso que atualmente tramita no senado uma sugestão de projeto de lei, de iniciativa popular para criminalizar a atividade de Coaching, por conta desta infinidade de ofertas de cursos e serviços muitas vezes enganosos que podem lesar e causar prejuízos aos consumidores. Neste caso, não podemos esquecer que o Coach está lidando com vidas, o que é realmente muito sério.
À propósito, o Conselho Regional de Psicologia (CRP), também vem se manifestando quanto à prática abusiva do Coaching, pois muitos profissionais acabam avançando o sinal e tratando casos da esfera da Psicologia, o que além de ser antiético, pode ser também muito perigoso aos Cochees. Imaginem Coaches tratando pânico, depressão, surtos psicóticos ou outros transtornos mentais. É realmente um absurdo! Vale lembrar que o Coaching é um processo de curto prazo e não foi concebido para tratar patologias de ordem psíquica.
Além da preocupação com a conduta dos Coaches, é claro que os Psicólogos também estão preocupados com a perda de receita causada pelo Coaching, pois muitos clientes preferem ser atendidos por um Coach, porque está mais na moda e tem maior aceitação e status, principalmente no ambiente corporativo, ou porque ainda existe um preconceito equivocado de que a psicologia só trata doenças mentais e que os tratamentos são caros e de longo prazo.
Existe também uma corrente no sentido de tentar regulamentar a profissão de Coaching no Brasil, mas é realmente muito difícil conseguir êxito neste sentido, porque não há união, nem concesso da categoria e nem todos acham interessante ter um conselho que supervisione a prática da profissão. Porém, é fundamental se chegar a um acordo urgentemente sobre a necessidade de se criar parâmetros e controles para o exercício da profissão a fim de coibir a entrada de mais charlatões no mercado.
Em contrapartida, é importante destacar também que existem muitos profissionais sérios, fazendo um trabalho de altíssima qualidade, realmente ajudando pessoas a encontrarem seus propósitos e a serem mais felizes, tanto no campo pessoal como no campo profissional e que também existem muitas empresas se beneficiando com o trabalho de Coaches competentes e qualificados.
É fundamental também dizer que o mercado de Coaching vem crescendo rapidamente em todo o mundo, tendo em vista sua eficácia comprovada, quando aplicado adequadamente. Só para se ter uma ideia, nos Estados unidos este mercado já fatura US$ 2,3 bilhões por ano, segundo a ICF (Internacional Coach Federation).
Em suma, é uma pena presenciar o que está acontecendo com o Coaching no Brasil, porque na realidade o mercado de Coaching em si é sério e muito sério e deveria ser tratado como tal, não como motivo de piada.
Também existe muita falta de conhecimento da população em geral quanto ao que realmente é o Coaching. Então para aqueles que não conhecem bem a fundamentação do Coaching, segue abaixo um breve histórico e a aplicação do Coaching desde sua descoberta:
Segundo consta, o termo coaching começou a ser empregado na Europa, ainda durante a idade média, com o objetivo de descrever o condutor de carruagens (coach ou cocheiro em português) que levava seus passageiros aos seus respectivos destinos.
Porém, o conceito de Coaching começou a ser realmente difundido nos Estados Unidos na década de 1960, através do modelo de Coaching esportivo passando a ser adotado posteriormente pelo mundo dos negócios. No Brasil, o Coaching foi introduzido a partir da década de 1990.
Coaching é o processo pelo qual o Coach (que pode ser entendido como treinador em Inglês) atua como facilitador no sentido de possibilitar a definição de metas e objetivos por parte de seu cliente (Cochee), através de uma estrutura baseada em perguntas e questionamentos que gerem reflexões e insights que conduzam à compreensão e validação de suas metas, estabelecendo a partir de então, estratégias e planos de ação para o alcance das mesmas.
Durante os últimos anos, o processo de Coaching passou por várias transformações e importantes validações que comprovam sua eficácia. Quando começou a ser aplicado em algumas organizações, os benefícios foram inegáveis, maximizando os resultados de pessoas e organizações. Este desenvolvimento por meio do Coaching foi ainda mais difundido em virtude das rápidas mudanças globais.
O Coaching nasceu de diversas correntes da psicologia, incorporando alguns elementos da Psicologia Positiva, Programação Neuro Linguística (PNL), Terapia Cognitivo Comportamental (TCC), dentre outros. O Coaching funciona como um facilitador para o autoconhecimento, através da identificação de seus pontos fortes e pontos fracos, oportunidades e ameaças que possam interferir no cumprimento de seus objetivos, e ajuda também no desenvolvimento de suas capacitações, auxiliando a detectar crenças e padrões de comportamento limitantes que possam comprometer o desenvolvimento de seu potencial, através da utilização de várias ferramentas e métodos, buscando reforçar sempre aspectos positivos, de forma realista, em cada sessão.
Coaching não é exatamente um processo terapêutico, portanto não pode ser rotulado como psicoterapia. É um processo breve (em geral de 10 sessões) com foco no presente (estado atual) e buscando atingir um objetivo específico no futuro (estado desejado), ajudando na resolução de dúvidas e dilemas de forma pragmática e orientada para soluções.
Reforçando que Coaching e psicoterapia são processos distintos e muitas vezes complementares. Enquanto a psicoterapia trabalha e se preocupa muito mais com elementos do passado, assim como experiências na infância, traumas etc., o Coaching concentra o seu foco no momento presente e na solução do problema (nunca no problema em si).
Em suma, infelizmente a falta de conhecimento e informação contribuem para a ridicularização desta profissão que tem ajudado muitas pessoas, seja na esfera pessoal, seja na esfera profissional a melhorarem significativamente suas vidas em todo o mundo. Nossa expectativa é que em breve a profissão de Coach seja regulamentada e reconhecida como uma profissão digna é séria e que não seja mais tratada de forma jocosa e desrespeitosa pela mídia em geral.
Assim como em toda profissão existem os maus e os bons profissionais, as más e as boas escolas, portanto não podemos generalizar, colocando todos no mesmo saco. A verdade é que o Coaching ainda é jovem no mercado Brasileiro e com certeza, logo haverá uma depuração natural no segmento e somente quem realmente tiver competência se estabelecerá no mercado.
