Presenciamos recentemente a ação desastrosa de um profissional que se autointitula Coach digital e que possui milhões de seguidores em todo o Brasil. O Coach em questão conduziu um grupo de 60 pessoas ao pico dos Marins na Serra da Mantiqueira, com o objetivo de evidenciar a todos que tudo é possível quando se tem foco, determinação, blá, blá, blá. E que para isto é preciso sair da zona de conforto (literalmente) e destravar (é isso mesmo), destravar a sua mente para conseguir atingir seus objetivos. Neste sentido, ele convenceu estes clientes a se aventurarem em uma escalada na serra da Mantiqueira em uma altitude bem elevada, debaixo de uma chuva torrencial, com ventos fortíssimos e pasmem, ninguém do grupo, nem mesmo o Coach Messiânico tinha alguma prática ou treinamento de sobrevivência para situações de perigo em regiões como esta. O que é mais incrível ainda é que cada pessoa pagou quase R$ 3.000,00 para participar do suposto treinamento ou “processo de coaching”.
No final, o corpo de bombeiros foi acionado para resgatar os “coachees” (clientes), pois o referido Coach não conseguiu, através dos seus “super poderes”conduzir os seus clientes de volta ao ponto de partida.
O que causa indignação e que é importantíssimo destacar é que, definitivamente, atividades como esta NÃO podem ser classificadas como Coaching.
Infelizmente, o Coaching vem sendo banalizado e até ridicularizado com frequência em virtude de profissionais que se apropriam do título para venderem seus cursos e métodos de autoajuda, misturando uma abordagem séria, que vem da Psicologia, mais especificamente da Terapia Cognitivo Comportamental e Psicologia Positiva com algo parecido a uma seita, gritando palavras de ordem, mantras, etc. Muitos, inclusive, usam abordagens religiosas para convencerem seus clientes a comprarem seus cursos, seminários, dentre outros.
Também está se tornando muito comum a figura do Coach/Guru de auditório, que promete resolver todos os seus problemas financeiros, familiares, conjugais, doenças, traumas de infância, etc. em apenas poucas sessões. Fácil assim……
Lamentavelmente, algumas pessoas mais fragilizadas, que perderam o emprego recentemente ou que estão passando por algum drama familiar acabam caindo nestes contos do vigário e muitas vezes se endividam ainda mais para pagarem um curso ou uma formação, achando que isto poderá mudar suas vidas, quando na verdade nestes processos de Coaching de autoajuda, o único que realmente acaba sendo “ajudado” é o próprio Coach e a sua conta bancária.
A propósito, tramita no Senado uma proposta de projeto de lei que visa criminalizar a prática do Coaching no Brasil e também o CRP (conselho regional de Psicologia) está tentando conter a conduta destes profissionais que muitas vezes não tem nenhuma formação para trabalharem com pessoas.
É claro que existem muitos Coaches sérios no mercado. O Coaching quando aplicado com ética e profissionalismo produz resultados muito positivos, como acontece em todo o mundo. O Coaching chegou ao Brasil no final da década de 1990 e teve uma expansão muito rápida, especialmente no ambiente corporativo. É claro que isto também chamou a atenção de empresas mal-intencionadas que começaram a vender cursos e mais cursos de formação na área, colocando profissionais despreparados no mercado e causando esta confusão que estamos vivendo hoje.
É importante frisar que não existe mágica, e que não há nenhum processo que irá provocar mudanças muito rápidas na sua vida, como prometem alguns gurus. O Coaching realmente ajuda a atingir alguns objetivos pessoais e profissionais, além de promover uma melhoria do seu autoconhecimento. Neste caso, o Coach deve atuar apenas como um facilitador deste processo. Ou seja; o protagonista é sempre o Coachee e nunca o Coach. Portanto, antes de embarcar em qualquer aventura em um processo de Coaching, certifique-se onde realmente este profissional pode estar te levando!
